quinta-feira, 26 de novembro de 2009

NA FACE DO SEMELHANTE, O REFLEXO DO TODO DE TODOS.

ARTIGO
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Estando a considerar minha reflexão frente à data comemorativa de hoje, bem como a tácita discrepância do auspício de seu significado frente à realidade prática de nossa sofrida gente, e ainda honrado com o convite para escrever em homenagem ao aniversário deste significativo veículo de comunicação popular, decidi tratar acerca do eu na realidade da necessidade do outro como parte integral do nosso ser coletivo. A isso, em Filosofia, chamamos de alteridade.[1]
A Ética da Alteridade, propriamente dito, é um princípio da Filosofia moderna, criado por Emmanuel Lévinas (1906-1995) que foi um filósofo judeu-lituano. Seu pensamento parte da idéia de que a Ética, e não a Ontologia, é a Filosofia primeira. Ou seja, é no face a face humano (na inter-relação genuína), que se irrompe todo sentido de ser.
Diante do rosto do Outro (semelhante, próximo etc.), o sujeito se descobre e lhe vem à idéia o Infinito.
Isso significa dizer que, antes e acima de tudo, é a boa convivência o quesito primaz da qualidade de vida.
Ou seja, é no coletivo relacionar-se (horizontalmente, diga-se) que nos completamos no caráter e na alma.
Desta forma, os velhos, porém equilibradores, ideários revolucionário franceses da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, tornam-se a extensão da prática da determinação cristã: “Ao teu próximo como a ti mesmo”.
É preciso então entender que ciências desatualizam, ciclos se fecham, instituições e corporações extinguem-se e todas as nossas tarefas são meros recursos didáticos que, mais tempo menos tempo, esvaem-se na sepultura do porvir; mas os relacionamentos, doutra feita, perpetuam-se na consciência!
São estes as únicas realidades plausíveis de todo o nosso conjunto humano: é a essência e o sentido que faz a vida pulsar em nós.
Por isso, imperiosamente, temos que aprofundar conceitos e raízes de coletividade em torno da alteridade no melhor encaminhamento das nossas questões em relação ao semelhante, seja nas atividades educativas, seja nas exortações religiosas, seja na assistência da Saúde Publica, seja nas sedimentações da Política, do Direito, da Justiça e etc., para que assim, e tão somente assim, forjados sejam os melhores elementos disciplinadores da Sociedade.
Desta forma, urgentemente, se estabeleça uma ética nas relações que reflita os princípios de pluralidade natural para a harmonia de uma Sociedade igualitária.
Ser ético e alimentar princípios de alteridade, não significa concordar com tudo ou aprovar tudo; aquele ou esta não nos retira o senso de valor moral enobrecedor que nos distancia da subserviência. Contudo, é respeitar a diferença e, muito mais que isso, buscar aprender algo sobre a essência do outro numa razão tão profunda que seja-nos tão fundamental nosso bem existir como o bem existir do nosso companheiro de geração coletiva! Como se fosse uma ação tangível para aquele comportamento “invisível aos olhos” como acentua o inigualável Antoine de Saint Exupéry.
Sendo assim, a ética da alteridade deve consistir basicamente em saber lidar com o "outro", de forma que o mesmo fique assimilado não apenas como o próximo no sentido da “outra pessoa”, mas, muito além disso, como o diferente, o oposto, o distinto, o incomum ao mundo dos nossos sentidos pessoais, o desigual, que na sua realidade deve ser respeitado como é e como está, sem indiferença ou descaso, repulsa ou exclusão, em razão de suas particularidades, mas aceito como necessário ao conjunto social.
Levinas nos estimula a idéia de alteridade no significado máximo da contemplação do rosto do outro como forma de realização da ética fundamental. Nesse acordo o rosto humano, portanto, é o lugar onde o ser humanizado está mais nu e exposto. O rosto humano do outro está sempre a nos lembrar não matarás: nem de frio, nem de fome, nem de sede, nem de injustiça, nem de miséria na ignorância, nem no abandono do relento...
Levinas nos adverte que no rosto do outro sempre estará o nosso maior desafio: que nada mais é que buscar as formas de corresponder a este desafio. No rosto do outro está sempre o local onde a ética se realiza, onde eu sou desafiado a corresponder ao seu chamamento.
Por fim, valho-me deste espaço para, dentre outros motivos, objetivar a satisfação de saber da existência deste veículo de informação e formação humana, o ‘Favoritos da Cidade’, onde as opiniões são tratadas com respeito e, mais que isso, com “dever alteritário”. Parabenizo-o pela data e solidarizo-me com seus propósitos e intuitos humanitários, na intenção de que prezemos as diferenças dos nossos semelhantes e honremo-las com a ética da fraternidade.


Érico Lustosa - Filósofo


magus13@bol.com.br


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Alteridade:
[1] Rubrica: filosofia.
Situação, estado ou qualidade que se constitui através de relações de contraste, distinção, diferença [Relegada ao plano de realidade não essencial pela metafísica antiga, a alteridade adquire centralidade e relevância ontológica na filosofia moderna (hegelianismo) e esp. na contemporânea (pós-estruturalismo).] Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0

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