sexta-feira, 12 de março de 2010

Cidades vizinhas aniversariam no mesmo dia

Por Bárbara Lustosa


Olinda e recife em festa. Conheça como surgiram e um pouco do que elas têm a oferecer de lazer.
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Em 9 de março de 1535, o fidalgo Duarte Coelho chegou à Olinda acompanhado de sua mulher dona Brites de Albuquerque, de alguns fidalgos e colonos portugueses. Para chegar à sua capitania, a comitiva do donatário passou por Itamaracá indo em direção à foz do rio Igarassu, desembarcando em uma feitoria que servia de tráfego do Pau-Brasil. Esse local lhe serviu de abrigo por um tempo, mas Duarte logo resolveu procurar um lugar melhor e seguiu então para a direção sul. Segundo alguns historiadores, Duarte ao avistar uma das colinas de Olinda não se conteve, deslumbrado com tanta beleza e exclamou: “Oh linda situação para uma vila”. Nascia nesse momento o nome que representa bem essa poética cidade.
A primeira menção da Cidade do Recife em documento é datada de 12 de março de 1537, quando Duarte Coelho envia ao rei D. João III o Foral de Olinda, que era uma carta de doação que relatava todos os lugares e benfeitorias existentes na vila. E nesse documento ele cita Recife como “Arrecife dos Corais”.
Em 1966, foi criada uma comissão para decidir a data do aniversário do Recife. Por consenso as duas cidades passaram a aniversariar no mesmo dia, conforme o documento de 12 de março de 1537, que confirma a existência das duas. Olinda comemora 475 anos e Recife 473 anos.
Cidades vizinhas, cheias de histórias e belezas que se misturam. Recife com suas ilhas ligadas por pontes, é considerada a “Veneza brasileira”. Possui muitas construções tombadas pelo patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, e seu litoral atrai muitos turistas fascinados pela beleza de suas praias.
Mas é em Olinda e suas 7 colinas, que vamos encontrar um legítimo exemplar não só de história como também de arquitetura colonial. Seus casarios seculares com suas ruas estreitas, conventos, igrejas e museus, são convites para quem quer navegar na história do princípio da colonização do Brasil, pois neles estão presentes preciosos momentos das influências indígenas e européias. Para conhecer todos os lugares sem passar despercebido nenhum local, nada melhor que conhecê-la a pé, com uma boa caminhada.
Quem chega à cidade alta de Olinda, entende porque ela é encantadora, afinal, de cima de suas colinas dá para observar centenas de casas coloniais coloridas e também avistar uma bela paisagem de árvores frutíferas que dividem a atenção com o céu azul de nuvens brancas que parecem espumas debruçadas no mar.
Entre os vários monumentos localizados no seu Sitio Histórico, quem chega não pode deixar de conhecer a Igreja de São Salvador. Ela é a primeira Igreja do Brasil dedicada a Jesus, sendo construída em 1537. Hoje ela é conhecida como Igreja da Sé, e é por isso que os olindenses nomearam o local de “Alto da Sé”.
Outra igreja que não se pode deixar de conhecer é a Igreja de São Bento. No seu interior pode-se visualizar o maior e mais rico altar barroco da cidade feito em madeira revestida com ouro.
As primeiras páginas da história pernambucana, mais precisamente a olindense, não se devem só ao grande Duarte Coelho e seus
bravos heróis no decorrer da história, devem-se também às Ordens religiosas: os Jesuítas, Carmelitas, Beneditinos e Franciscanos. A cidade alta possui a maior concentração de templos católicos por metro quadrado do País. Na área tombada estão 27 igrejas e capelas.
Para quem busca artesanato regional e pinturas de renomados artistas, essa cidade é um verdadeiro celeiro cultural. A Rua Bispo Coutinho possui uma infinidade de galerias e lojas de artes. Uma delas é a Galeria São Salvador, esse estabelecimento é a antiga casa da Judia Branca Dias, local onde se reuniam os cristão-novos. O viajante que entra nesse casarão além de avistar peças de artes por todos os lados, encontra ainda intacto um local sagrado judaico, que era utilizado para as cerimônias de purificação no judaísmo, os chamados “banhos da purificação”, mais conhecidos como Miqvé.
Um levantamento feito pelo Arquivo Histórico e Cultural Judaico de Pernambuco, aponta que esse local foi a primeira escola de pinturas, bordados, artes e culinária para moças do Brasil, e também funcionou como uma sinagoga clandestina. De acordo com o vendedor Manuel Gomes, Branca Dias e seu esposo Diogo Fernandes foram os primeiros Marranos (judeus que mantinham a tradição religiosa sob fachada cristã) que chegaram ao Brasil. Segundo o funcionário Luciano Tavares, em torno de 300 pessoas entram nesse casarão diariamente, seja para visitar o local preservado ou para adquirir alguma peça de arte. “Os tradicionais entalhos de madeiras, ímãs e cartões postais são o produtos mais procurados”, diz.
Caminhando em direção à ladeira da Misericórdia, ainda na Rua Bispo Coutinho, existe um grupo de artistas anônimos com suas tendinhas de artesanatos, que retratam cada canto desse local através de entalhos de madeiras. Nessa mesma rua encontra-se um casarão chamado Ecological Artesanato, nele há uma infinidade de peças de artes que retratam a cultura regional.
Outro local muito visitado e que abriga várias lojas de artesanatos é o Mercado da Ribeira, situado na Rua Bernardo Vieira de Melo. Sua edificação típica do Brasil colônia, sendo construída no século XVII, funcionava como mercado de carnes, farinhas e peixes, além de comércio de escravos por ser um mercado público. Na sua frente existe uma ruína de um muro secular que faz parte de um pedaço da preciosa história dos olindenses e brasileiros, pois, foi nesse local que foi dado o primeiro Grito da República no Brasil, por Bernardo Vieira de Melo em 10 de novembro de 1710, 112 anos antes do grito do Ipiranga, por D. Pedro I. Olhando para essa ruína pode-se observar a espessura avantajada das paredes antigas.
Além de tudo, o Sítio Histórico de Olinda oferece ao visitante uma rede de restaurantes bastante diversificados. A vida noturna é muito badalada, podendo satisfazer aos mais variados gostos. Um dos points preferidos dos artistas e anônimos, é a famosa Bodega de Véio, localizada na Rua do Amparo. Outro local de clima familiar e de descontração, que chama atenção pelo seu ar místico e pomposo, é um cantinho que há 40 anos permanece na região de forma pitoresca e singela, o Bar e Restaurante Cantinho da Sé. Esse tradicional bar cativa pelo atendimento e culinária regional, além da belíssima vista que proporciona.
E depois de todo esse roteiro percorrido, não tem encanto melhor que sentar no Alto da Sé e ver um lindo pôr do sol, saboreando uma tapioca quentinha feita na hora. As mais de trinta tapioqueiras produzem além da tapioca tradicional de côco e queijo, muitos outros sabores como: bacalhau, frango com catupiry, camarão, doce de leite e chocolate.
A cidade baixa de Olinda possui uma orla marítima bastante movimentada, um belo calçadão largo com alguns espigões que vão de encontro ao mar. Ela é frequentada por famílias, casais de namorados, amigos, e conta com uma infra-estrutura de hotéis, bares e restaurantes especializados principalmente em comidas regionais e frutos do mar. Alguns desses bares colocam mesas nos espigões que são batentes disputados pelos frequentadores.
Olinda é uma cidade muito charmosa, os poetas do lugar exaltam em cantos ou em versos a fascinação que tem pelo lugar. “Olinda é só para os olhos, não se apalpa, é só desejo. Ninguém diz: é lá que eu moro, diz somente: é lá que eu vejo”, disse o poeta Carlos Pena Filho.

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